23/11/2012

Quem tem coragem de lutar contra a violência!?! Age of Iron- Um livro que trata da violência na África do Sul durante o regime do apartheid.

 
 
 

Um dos meus heróis, o escritor J.M. Coetzee sofre do mesmo mal que outros artistas Sul-Africanos espetaculares- entre eles, Marlene Dumas e William Kentridge.  O mal é a culpa e a angústia causada por presenciar atos criminosos  contra os negros em seu país e não ter a coragem de lutar ativamente contra esta tragédia.  Todos os três exibem em sua arte esta angustia que lhes corrói a alma.

Este livro espetacular que li em duas horas não consegui parar nem para mudar de posição, tal o envolvimento.

Mrs Cullen é uma senhora que está morrendo de câncer e começa a escrever cartas à sua filha que mora nos Estados Unidos como forma de deixar a ela uma “herança”. A filha havia deixado a África do Sul prometendo nunca mais voltar- enquanto estes “animais” estivessem no poder. A poucos quilômetros de sua casa acontecem chacinas muito semelhantes às que temos presenciando na periferia de São Paulo nas últimas semanas.  Sua empregada doméstica volta da folga trazendo junto seus  filhos, tentando protegê-los da violência da periferia e Mrs Cullen se vê “sitiada” por adolescentes rebeldes e violentos, os quais por um lado admira pela coragem de se levantar contra o regime opressor e por outro lado tem horror- principalmente por desafiar os mais velhos.  Esta mesma dualidade se encontra nos filmes e trabalhos de Kentridge e também de Marlene Dumas.  Ao mesmo tempo que Coetzee relata seu desprezo por estes seres humanos abusivos, desafiadores, tem pena e culpa de não ajudá-los a vencer a ditadura, o preconceito e a violência por parte do governo.

deixados para trás

left behind

 A história é toda contada através do uso de um personagem adicional que faz a figura do “alter ego” – e Coetzee é um mestre nesta técnica, tendo usado a mesma em outros livros, Elizabeth Costello entre outros.  Em seus livros, o autor tem longas conversas com si mesmo. Em “Age of Iron” o personagem é Vercueil, um alcoólatra, morador de rua, que Mrs. Cullen encontra em sua casa uma tarde dormindo na garagem.  Ela quer e “não quer” se livrar dele.  Ele invade sua casa, traz uma companheira para morar lá, está sempre bêbado, fedorento, sujo- mas ela não consegue expulsa-lo pois sabendo da morte iminente quer o homem para “guiá-la” até o “outro lado” . Em meio a violência que os circunda, Vercueil é a pessoa que lhe mostra o lado do amor do ser humano.

 Coetzee e Kentridge são tão especiais porque nos colocam nesta berlinda que também vivemos aqui no Brasil- a dualidade de ter que conviver com o bandido que te assalta e mata mas ao mesmo tempo nos dá pena pois sabemos que alguns deles não tem nada a perder, nunca teve uma chance na vida.  Sou suspeita de elogiar Coetzee.  Tenho e li várias vezes quase todos os seus livros e fiquei surpresa de encontrar este que foi publicado a primeira vez em 1990 e que eu não conhecia.  Imperdíiiiivellll!

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31/10/2012

“A Artista do Corpo”, mais um intrigante livro de Don DeLillo

 
 
 

Quando o artista lança sua arte ao público, cada um a consome através de seus filtros “coadores”.  Cada qual a molda de acordo com sua história pessoal.  É esta a conclusão a qual cheguei apos a leitura de um excelente livro de Don De Lillo, “A artista do corpo”. O livro trata do luto de uma viúva cujo marido cometeu suicídio.

Na verdade trata da maneira com a qual ela se relaciona com o luto, e com a relação com o marido, através de um fantasma (ou será realidade?) de um homem aparentemente com alguma doença tipo Alzheimer’s  e que em certos momentos parece com seu marido.  E faz mais, através do luto a viúva se auto descobre e se re-descobre.

Como é característico de De Lillo, vc tem que prestar muita atenção a leitura e eu me peguei voltando às primeiras páginas várias vezes para saber se o que eu estava entendendo era o que o autor queria dizer.   Ele deixa as coisas “meio no ar” e vc tem que tirar suas próprias conclusões ou montar seu tabuleiro de xadrez para saber qual a intenção da história contada.  Será que o que eu acho que li é o que eu li? No meu entender, Rey, o marido suicida, já possuía alguma doença do esquecimento pois nos primeiros diálogos tenta lembrar de algo para dizer a Lauren e não consegue lembrar- também fala algumas coisas desconexas.

Mais pra frente no livro, o homem ou fantasma que Lauren encontra sentado de roupa de baixo num dos inúmeros quartos da casa alugada em que mora, também carrega esta linguagem reticente e na maioria das vezes incompreensível.   Em seu livro mais recente, “Homem em queda” DeLillo também aborda cuidadosamente  o esquecimento, Alzheimer’s e  o suicídio de pessoas próximas.

O livro fala muito de como nos relacionamos com o tempo e nestes trechos é realmente poético.  Aliás, todo o livro lida com o fantasma e a dor da morte de entes queridos com uma delicadeza única, como se estivesse manipulando um véu de noiva muito antigo que vai se desfazendo a medida que o tocamos.

Veja um trecho: “Alguma coisa está acontecendo.  Já aconteceu.  Vai acontecer.  Era nisso que ela acreditava.   Há uma história, no fluxo da consciência e possibilidade.  O futuro vem a ser. Mas não para ele. Ele não aprendeu a linguagem.  Tem de haver um ponto imaginário, um não lugar em que a linguagem cruza com nossas percepções do tempo e do espaço, e ele é um estranho nessa encruzilhada, sem palavras nem orientação. Mas ele sabia o que? Nada.  Este é o papel do tempo  Ele é a coisa sobre a qual você não sabe nada.” Para mim, em particular, o parágrafo acima lida com o tempo mas para mim também descreve o que pode estar acontecendo a uma pessoa que tem Alzheimer’s. Fiquei curiosa para saber a opinião de outros leitores e pesquisei um pouco na internet e acabei descobrindo até uma entrevista com Don De Lillo que nos abre uma fresta e mostra como ele próprio cria seus personagens, como vive e como pensa.   Link:  http://www.theparisreview.org/interviews/1887/the-art-of-fiction-no-135-don-delillo

Como as opiniões sobre este livro em particular são muito diversas, cheguei a conclusão que quando vejo muitas opiniões sobre alguma obra de arte: depois que o artista lança sua arte ao público, cada um a consome como lhe apetece.  Cada um a vê através de uma moldura formada por sua própria vivência- e a obra de arte (neste caso literatura) nos alimenta e nos satisfaz de acordo com nossa história pessoal. Don DeLillo, “A Artista do Corpo”, Companhia das Letras.

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02/02/2012

BARCELONABUENOSAIRES

 
 
 

BARCELONABUENOSAIRES Cada um de nós tem suas razões para gostar de viajar- a minha é a descoberta de obras arquitetônicas excepcionais , museus e a descoberta de novos sabores e receitas gastronômicas, além, é claro, de conhecer gente, cultura, arte, etc.  Acabo de voltar de Barcelona onde descobri obras arquitetônicas incríveis- uma delas é internamente similar a outra em Buenos Aires. Barcelona e Buenos Ayres, ambos surpreendem pela quantidade e qualidade de obras arquitetônicas- Barcelona pelas obras de Gaudí e por edifícios contemporâneos e Buenos Aires mais por edifícios históricos mas também por obras moderníssimas e intervenções urbanas admiráveis.  As obras que desejo destacar hoje são o Museu de Arte Contemporânea de Barcelona, o  MACBA e o MALBA de Buenos Aires- museu que abriga a coleção Costantini.

MACBA fachada frontal- praça

MACBA MUSEU D’ART CONTEMPORANI DE BARCELONA, projetado por Richard Meier é muito parecido internamente com o MALBA de Buenos Aires feito pelo escritório de arquitetura, AFT+Partners (Atelman, Fourcade e Tapia) e o MACBA – MUSEU D’ART CONTEMPORANI DE BARCELONA, feito por Richard Meier.

MALBA- Vista para edifício vizinho

Embora as entradas sejam diferentes, o MALBA é muito iluminado por luz natural, enquanto o MACBA é inicialmente escuro mas fica claro quando adentramos o centro do poço central.

MACBA interior

 

MALBA- interior

Ambos são claros, tem estruturas monumentais de cortina de vidro, até parecidas, muito transparentes.  A praça do MACBA, por causa de suas rampas, é um site favorito de skatistas.Já o MALBA olha para uma avenida movimentada e um edifício antigo do outro lado.

MACBA- vista da praça

O que é incrível é que a planta dos dois é muito semelhante- uma área central na entrada (o espaço vazio deste poço central é mais amplo no MALBA e mais estreito no MACBA- ambos usam longas rampas de acesso aos pisos superiores e inferiores e muita luz, muita transparência.   Externamente o edifício de Richard Meier até impressiona mais com sua volumetria reta contrastada por um volume com curvas, como se tivesse ganho um pitada de Gaudí para lembrar Barcelona. Na verdade a intenção de Richard Meier era de fazer uma suave transição entre a luz intensa da cortina de vidro e as salas escuras onde estão expostas as obras.

MACBA- ingressando no hall central

O museu de Buenos Aires, \ ganha com os reflexos maravilhosos na sua cortina de vidro.  Neste caso o poço central museu é todo iluminado uniformemente com a luz natural.

MALBA- os lindos reflexos

MALBA- reflexos

Acredito que nenhum arquiteto consegue visualizar totalmente a sensação que seu espaço irá criar no espectador- e nem todas as sombras a cada hora do dia.  O MACBA oferece um verdadeiro espetáculo de sombras- vide foto – e ambos deleitam o espectador com a quantidade de luz interna.  Ao caminhar pelas rampas internas somos banhados por luz e sombras projetadas da estrutura da cortina de vidro.  É um lindo bailado construtivista.

MACBA- rampa de acesso aos pisos

MACBA- lateral onde estão as salas de exposição

A estrutura de Richard Meier ganha leveza pela sua brancura, característica do autor, enquanto o de AFT ganha pela própria leveza e geometria da estrutura- que é fascinante.

MALBA- estrutura leve

MALBA- estrutura e iluminação

O MALBA tem um “plus”  que só é descoberto no verão- no fim de novembro/começo de dezembro quando os jacarandás florescem em Buenos Aires.  Seu edifício “sorri” com os jacarandás em flor.  É como se estivéssemos vendo um lustre lindo que se ilumina todo  e brilha quando acendem a luz.  Este é o efeito dos jacarandás no edifício do MALBA- que não acontece no MACBA- cuja praça é bastante nua de vegetação. Ambos recebem curadoria impecável. Quando estive no MALBA no ano passado havia uma retrospectiva de Marta Minujin muito bem montada.  O MACBA está expondo Muntadas- excelente exposição-  e um filme imperdível de Anri Sala: 1395 Days Without Red- um projeto colaborativo entre Sejla Kameric e Anri Sala.- O filme trata dos mil trezentos e noventa e cinco dias que durou o cerco a Sarajevo.  Entre 1992 e 1996 os cidadãos tiveram que atravessar a cidade ameaçados por franco-atiradores a cada esquina, toda vez que iam ao trabalho, comprar comida ou visitar a família.  A câmera segue uma mulher que atravessa a cidade, parando em cada esquina e tentando chegar ao ensaio da orquestra da qual faz parte.  Ao mesmo tempo vai rememorando as partes que toca no concerto enquanto percorre seu infindável e torturante caminho.   É um filme inesquecível.  Assim como o museu que o abriga!

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04/12/2011

UMA EXPOSIÇÃO IMPERDÍVEL: UMA AULA DE ARTE CONCEITUAL E MINIMALISTA

 
 
 

Desde que conheci o trabalho de Jac já admirava sua arte e tinha consciência de sua genialidade.  Pois apresentar uma critica política por meio de objetos reais figurativos é fácil- ainda que requer criatividade e técnica- seu tio Nelson Leirner é mestre nisto.  Mas colocar uma idéia política por meio de arte construtiva minimalista- por meio de objetos puramente geométricos é o máximo de criatividade.

Me parece que uma boa parte dos Leirners é compulsivo colecionador.  Jac não foge à regra.    Seu atelier tem gavetas e gavetinhas cheios de coleções de objetos – chaveiros, objetos do cotidiano.  São como soldadinhos de chumbo, à espera de uma “ordem” criativa para arranjá-los  num jogo de significados e apelo ao senso estético. Tendo iniciado minha vida de artista muito tardiamente, finalmente percebi o quanto sofrido é executar uma obra “autoral”.  É uma vontade, teoria, ou critica-  que paira em seu pensamento e que quer ser concretizado para poder ser melhor entendido por você mesmo ou para a sociedade em geral. Pois só colocá-lo em palavras não é o suficiente para demonstrar exatamente seu propósito. Precisa da arte para enfatizá-lo , para chocar, para se perpetrar como pensamento. Pode levar meses ou até anos desenvolvendo-se em sua mente até adquirir corpo.  A série de dinheiro “os  cem” de Jac mostra de forma genial o desdém à inflação e ao valor que a sociedade atribui ao dinheiro.  E o mesmo acontece com “corpus delictii” série de objetos roubados de aviões transformados em objetos de arte.  Veículos de idéias.

O que me fascina em Jac é a idéia criativa aliada à estetica impecável.  Tenho visto por aí muita arte conceitual executada tão porcamente que me lembra aqueles fulanos gordos de calção largo com suas partes íntima saindo pra fora do calção, chinelo arrastando pelo chão, lavando carro na rua.  A obra de jac se opõe ostensivamente a isto -sua técnica  e percepção visual tem a acuidade de uma ponta de compasso.  Tudo é meticulosamente montado.  Seu senso para combinação de cores, sua ocupação do espaço.  Posso dizer que tenho fascinação por seu processo criativo.  Gostaria de estar escondida no seu cérebro observando suas divagações artísticas.

Um dos trabalhos que mais gosto é uma sala com uma só tira de fita colorida dando a volta toda na sala. Uma festa para os olhos.

Na série de stickers- cada trabalho deve ser bem observado pois cada adesivo tem algo a ver com os outros do mesmo trabalho. Todos fazem parte de um todo com assunto ou idéia comum.

As séries de envelopes formam uma textura maravilhosa- que já seria um lindo trabalho ainda que não fosse conceitual- que não trouxesse uma idéia por trás.

Se você aprecia arte com estética minimalista e  impecável, não perca esta exposição- é uma aula!

Estação Pinacoteca – Largo General Osório, 66 São Paulo, SP – Tel. 55 11 3335-4990 – até 26/fev/2012

 

 

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25/11/2011

PERFEIÇÃO PARA AGRADAR A TODOS OS SENTIDOS

 
 
 

Uma das atitudes que está em extinção no século vinte e um é o ato de fazer as coisas com perfeição. Às vezes até acho que os jovens não conhecem a palavra.  Tudo começa na escola.  Os professores são pressionados a dar qualquer nota para aprovar  o maior número possível de alunos.  O resultado é uma população de trabalhadores que pouco conhecem o  orgulho de fazer perfeito.

Outro dia eu me surpreendi com dois profissionais cujo trabalho é nada menos do que a perfeição.

Eu havia me inscrito numa palestra na Casa  do Saber Cid. Jardim sobre Hermès – a famosa marca de bolsas, roupas e outros artigos que tem uma loja no Shopping Cidade Jardim.

Saí do Morumbi cedo pra evitar trânsito  e acabei chegando cedo demais  então resolvi jantar.  Sou maluca por comida japonesa e a nos arredores da Rua Mario Ferraz há um grande número destes restaurantes.  Minha escolha dentre os melhores restaurantes japoneses de sp eram tres: Shin Zushi, Miyabe e Jun Sakamoto.  Agora sei que são quatro!  Quase na esquina da Mario Ferraz, na própria Cidade Jardim fica o Empório Santa Maria, famoso por seus vinhos e mercado gourmet.  Daí lembrei que eles tem um sushi bar no andar de cima e resolvi satisfazer minhas glândulas degustatórias.

“De lamber os beiços” descreveria menos do que real.  Doze horas depois ainda estou salivando com o gosto daquele sushi.  Se você disser que dez reais por unidade de sushi é caro eu te digo que topo comer sopa pronta, de envelope, uma semana, e economizar pra comer 10 unidades do sushi do Cris Mori.  O Sushi chef, Cristiano Mori é atento à sua preferência e um dos prazeres é observar seus assistentes, Renato e Fabio meticulosamente preparando e cortando os peixes para o trabalho do chef.  Eu comi olho de boi, maguro e peixe serra e espada.  O maguro estava tão bom que repeti duas vezes!

Empório Santa Maria. Av. Cidade Jardim, 790 – Itaim – São Paulo – SP Tel: (11) 3816-4344.  www.emporiosantamaria.com.br

 

            

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Próxima surpresa: a palestra dos Hermès.  Primeiramente, um lindo filme documentário “Hearts and Crafts” mostrando os artesãos da Hermès trabalhando, cada um no seu departamento, e suas palavras de paixão pelo que fazem, pela perfeição, por trabalhar em uma companhia que valoriza o artesão e a excelência.   A fotografia do filme é impecável.  Com o  filme aprendi que leva dois dias para costurar uma bolsa Hermès. Vi como é costurada, ponto por ponto, à mão, sem qualquer uso de processos automatizados.  Também pude compreender porque os artigos custam muito mais do que outros produtos de primeira classe dos concorrentes. Não é simplesmente feito à mão com a melhor matéria prima que se pode  encontrar, o produto Hermès  é minuciosamente, perfeitamente, CARINHOSAMENTE feito à mão.  Após o filme Pascale Mussard, uma elegante descendente da sexta geração da Hermès respondeu às nossas perguntas e nos contou que o segredo da Hermès é o orgulho que cada empregado tem em fazer o seu trabalho e o amor que colocam em cada peça.  Ela até nos contou uma historinha: que quando uma bolsa fica pronta para enviar para as lojas os artesãos a expoem e a acariciam- e quando a peça é especial ela “responde” ao carinho!

Pascale nos contou que a Hermès pretende abrir no mínimo mais uma loja em São Paulo, outras no Rio, Belo Horizonte e Brasilia.

Ela também nos contou sobre seu novo projeto, “petit h”, que convida designers para criar peças únicas de design a partir de aparas e material descartado pela Hermès.  Mmmmm me dá vontade de estar lá mesmo sem ter formação em design de objeto…

Não menos perfeito que seus produtos é o site da Hermès  www.hermes.com  que eu visitei por horas a fio após a palestra.  Apesar dos preços fora do comum é difícil sair da loja.  Mesmo se você não pode — ou não deseja — adquirir algum produto, vale a pena gastar umas horinhas no site ou na loja.  Será  uma experiência  enriquecedora  que te fará apreciar cada vez mais um bom design e artesania. Obrigada a todo o time da Hermès e a Casa do Saber pela maravilhosa noite.  Me alegra saber que ainda há gente orgulhosa do que faz e que cultiva a perfeição.

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14/10/2011

JANELAS PLENAS DE LUZ

 
 
 


Meu pai sempre foi um estudioso de engenharia e logo aprendeu como é importante que sua casa seja face norte.  No começo de nossas vidas moramos numa casa na Vila Mariana. O quarto do casal e a sala eram face sul.  Minha mãe acordava todos os dias com enxaqueca- e dá-lhe palmada, dá-lhe gritaria, mau humor.  Eu vivia doente Só percebemos a importância da luz solar quando mudamos para uma casa na rua Carlos Sampaio. Nesta casa a sala, os dois dormitórios e a cobertura (depois transformada em escritório e salão de festas) possuíam grandes janelas face norte.  Acordávamos já com o beijo do sol.  É provável que minha família não tenha fotofobia então o nosso humor realmente melhora com a luz do sol.  Mas o que mais me chamou atenção em todos os locais onde morei foi a luz do pôr-do-sol quando tínhamos uma janela face Oeste.  Que coisa deliciosa é poder olhar todos os dias o pôr-do-sol, as cores que se cambiam, o calor que ele traz.  É como assistir a um novo espetáculo a cada dia.  Minha casa atual tem uma vitrine na sala-que olha para o norte e também tem uma janela face oeste. Na verdade quase não tem paredes- as que sobraram são cobertas de livros- mas estou rodeada de vidros.  E de luz. Minhas visitas de final da tarde ficam boquiabertas com o espetáculo do por-do-sol.  Os amigos fotógrafos “invejam” minha luz.

Com a invasão de edifícios com alturas estratosféricas em nossa cidade temos muita dificuldade em ter insolação ou mesmo claridade. Morei nove meses em apartamento no sexto andar na Rua Pernambuco.  O edifício é lindo, tem janelões de vidro até o chão e é face norte, porém, a proximidade e altura dos prédios em frente impedem a chegada do sol e da luz, que só pincela o prédio algumas horas por dia.  Isso, alem do fato que para ver o céu você precisa chegar junto da janela e esticar o pescoço pra cima.  Nem a facilidade de fazer tudo a pé (versus passar horas no transito do Morumbi) me fizeram feliz.  Passei  meses acabrunhada procurando céu e luz.

Hoje quando penso em morar em apartamento  vejo como é difícil repetir a minha situação atual de luz- quando você acha um apartamento  face norte, com grandes janelas, muito bem iluminado tem que ser próximo de uma esquina onde o terreno da esquina em frente seja pequeno o suficiente para que não seja vendido para uma incorporadora construir um prédio. Minha única saída seria comprar uma cobertura ou pagar o mico do trânsito do Morumbi mas recebendo doses diárias de espetáculos de luz.  Para isso  tenho que ganhar na loteria….Ah estes devaneios…

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10/10/2011

O POEMA NA FOTO

 
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O POEMA NA FOTO

 

Bronzeados, sorriem, as duas crianças no colo do meu esposo.

O sol está cansado depois de um dia na praia.

Meu filho não tem o olhar de uma criança de apenas três anos

mas seu braço se apoia completamente sobre o do pai,

dedos do filho seguros ao polegar do pai.

Minha filha repousa seu braço sobre o do irmão, sua cabecinha

levemente recostada, esconde

a mão de meu esposo que afaga

seus cachos de seda, de um ano.

 

Meu esposo é o único que sorri diretamente à câmera,

suas linhas em paz.

Ele sabe

que essa foto ainda terá voz

muito depois do vento soprar o sol

ao silêncio.

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06/08/2011

Deleite fotográfico na Vila Madalena (pt)

 
 
 

Passar horas no trânsito para atravessar a cidade e comparecer a vernissage de outros fotógrafos pode parecer loucura mas a verdade é que me renova. E possivelmente o faz para outros fotógrafos. Ver como outros olham a mesma cena nos desperta, nos ensina a perceber que há tantas outras maneiras que você poderia ter usado para fazer a mesma coisa- mas não o fez- te faz pensar ainda em outras soluções, outras maneiras de abordar o mesmo tema e até mesmo de como usar outras midias.

Outra noite eu visitei uma exposição de 17 fotógrafos. Alguns abordam os temas de maneira muito semelhante a minha. Outros viajaram para o outro lado de seu cérebro para expressar seus pontos de vista. Eu falo da exposição “UMA COISA SÃO DUAS” na Galeria Impar, curadoria de Eder Chiodetto. A casa estava tão lotada que vc tinha que pedir para a pessoa sair para vc ver os trabalhos na parede. Com boa razão.
Tres trabalhos realmente se destacam. O primeiro é uma colagem fotográfica de partes de corpo e elementos arquitetônicos por Jaacqueline Schein- uma maneira diferente de montar a colagem meio tipo Grete Stern, que efetivamente acorda os receptores sensuais do espectador. O segundo é o trabalho de Oscarlina Bandiera, que trabalha também como instrumentadora cirúrgica. Muitos de seus trabalhos são fotos de cirurgias- algumas difíceis de se adivinhar que são partes de um corpo humano. A foto da mostra, ao contrário, é a foto de uma mão sem pele, ou melhor, a pele está completamente levantada, expondo toda a anatomia dos tendões. É chocante mas você não consegue parar de olhar. A foto está montada numa caixa de luz é quase gritante. Ela incita a dor mas ao mesmo tempo as cores são tão vivas e de uma combinação tão perfeita que quase parece ser de plástico. A terceira por Gabriela Oliveira- minha favorita desta mostra é uma série de três fotos pb de árvores desfolhadas, nuas, e que foram bordadas com fios de seda. De longe parecem uma dupla exposição ou um sanduiche de negativos. Um olhar mais cuidadoso revela a textura produzida pelo bordado delicadíssimo. Três autênticas jóias- só uma de cada! Imperdível!

Galeria Ímpar, Rua Mourato Coelho 1017, Vila Madalena, São Paulo, Brasil. Ph #: 5511-2645-4480. Sept´1st through Oct 7th

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